As festas do final de ano estão chegando. Com elas,
as viagens, os aeroportos cheios, as complicações,
as reclamações dos passageiros, a busca de culpados,
etc.
O recente pedido de demissão do presidente da Infraero
é um anúncio de problemas. Ou teremos uma transição
de poder em uma das instituições mais importantes
para a estabilidade do sistema e das operações
aéreas do país, ou teremos relacionamentos prejudicados
entre instituições, tudo durante uma das épocas
de maior fluxo de passageiros nos aeroportos.
No final, resta ao passageiro esperar.
Esperar que não haja muitos vôos cancelados,
que não haja muitos atrasos, que não haja greves,
que não haja operações padrão,
que a meteorologia esteja boa, que não haja “overbook”,
que haja um número adequado de atendentes, que haja
ações adequadas para a segurança de vôo,
enfim, que tudo seja resolvido...e que a mala chegue junto
ao destino final!
Em todo caso, é sempre bom manter o carro e a paciência
abastecidos.
O ponto importante a ser observado é que toda a atenção
da imprensa sobre os atrasos e as aglomerações
nos aeroportos gera um foco estreito do público e das
autoridades sobre essas “questões urgentes”,
que nada mais são do que os efeitos ou os sintomas
de problemas crônicos de base que só serão
resolvidos com planejamento e ações constantes
de longa duração.
Esse efeito é exatamente o que ocorre quando um acidente
aéreo acontece. Toda a comoção resultante
concentra a atenção de todos sobre as noticias
e as deficiências urgentes ali apontadas.
Contudo, para a solução mais eficiente dos problemas
reais, a verdadeira raiz das falhas observadas, existe a necessidade
de atenção aos assuntos importantes, mas normalmente
não urgentes, como a prevenção de acidentes
aeronáuticos.
Essa não é uma tarefa fácil, mas é
essencial que seja feita. É uma batalha diária
e ampla. Uma responsabilidade de todos, em todas as organizações
do sistema. Ela envolve o planejamento criterioso de estratégias
para as operações normais e de emergência.
O lento e contínuo convencimento dos operadores e gerentes
da importância da prevenção, a difícil
conquista da confiança de todos os envolvidos nas operações
aéreas, o isolamento completo das investigações
de acidentes feitas pelo CENIPA dos inquéritos criminais,
a atualização dos regulamentos brasileiros às
normas já aceitas internacionalmente a favor da segurança
de vôo, como o caso da RBHA 21 (já citado em
artigos anteriores), etc.
Assim, neste final de ano, esperamos menos esperas. Esperamos
mais segurança, com planejamento constante e atitudes
a favor da prevenção de acidentes, a favor da
resolução dos problemas importantes, não
apenas dos seus efeitos urgentes. Esperamos respeito aos passageiros
e aos trabalhadores do setor aéreo, e que as festas
do final de ano sejam cheias de alegrias a todos, com a presença
de todos da família, em tempo e seguros. E que esta
sempre seja a norma nas operações do setor aéreo
no Brasil. |
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |