A ESPERA POR SEGURANÇA

Marcos Pontes
10/12/2008

As festas do final de ano estão chegando. Com elas, as viagens, os aeroportos cheios, as complicações, as reclamações dos passageiros, a busca de culpados, etc.
O recente pedido de demissão do presidente da Infraero é um anúncio de problemas. Ou teremos uma transição de poder em uma das instituições mais importantes para a estabilidade do sistema e das operações aéreas do país, ou teremos relacionamentos prejudicados entre instituições, tudo durante uma das épocas de maior fluxo de passageiros nos aeroportos.
No final, resta ao passageiro esperar.
Esperar que não haja muitos vôos cancelados, que não haja muitos atrasos, que não haja greves, que não haja operações padrão, que a meteorologia esteja boa, que não haja “overbook”, que haja um número adequado de atendentes, que haja ações adequadas para a segurança de vôo, enfim, que tudo seja resolvido...e que a mala chegue junto ao destino final!
Em todo caso, é sempre bom manter o carro e a paciência abastecidos.
O ponto importante a ser observado é que toda a atenção da imprensa sobre os atrasos e as aglomerações nos aeroportos gera um foco estreito do público e das autoridades sobre essas “questões urgentes”, que nada mais são do que os efeitos ou os sintomas de problemas crônicos de base que só serão resolvidos com planejamento e ações constantes de longa duração.
Esse efeito é exatamente o que ocorre quando um acidente aéreo acontece. Toda a comoção resultante concentra a atenção de todos sobre as noticias e as deficiências urgentes ali apontadas.
Contudo, para a solução mais eficiente dos problemas reais, a verdadeira raiz das falhas observadas, existe a necessidade de atenção aos assuntos importantes, mas normalmente não urgentes, como a prevenção de acidentes aeronáuticos.
Essa não é uma tarefa fácil, mas é essencial que seja feita. É uma batalha diária e ampla. Uma responsabilidade de todos, em todas as organizações do sistema. Ela envolve o planejamento criterioso de estratégias para as operações normais e de emergência. O lento e contínuo convencimento dos operadores e gerentes da importância da prevenção, a difícil conquista da confiança de todos os envolvidos nas operações aéreas, o isolamento completo das investigações de acidentes feitas pelo CENIPA dos inquéritos criminais, a atualização dos regulamentos brasileiros às normas já aceitas internacionalmente a favor da segurança de vôo, como o caso da RBHA 21 (já citado em artigos anteriores), etc.
Assim, neste final de ano, esperamos menos esperas. Esperamos mais segurança, com planejamento constante e atitudes a favor da prevenção de acidentes, a favor da resolução dos problemas importantes, não apenas dos seus efeitos urgentes. Esperamos respeito aos passageiros e aos trabalhadores do setor aéreo, e que as festas do final de ano sejam cheias de alegrias a todos, com a presença de todos da família, em tempo e seguros. E que esta sempre seja a norma nas operações do setor aéreo no Brasil.

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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